Steil apenas afirmou, na decisão, que, neste momento, em que ainda não foi comprovado o impacto sobre os custos de manutenção das escolas com a substituição das aulas presenciais por virtuais, seria mais prudente conceder o desconto no caso da educação infantil, em que é evidente a perda das famílias e das crianças, pois os cuidados presenciais não podem ser substituídos integralmente por atividades remotas nesta faixa de educação, conforme argumentaram o MPSC e a DPE-SC.
Para o magistrado, o valor de 15%, que corresponde à menor faixa de desconto pedida, também se mostrou adequado como medida liminar para evitar possíveis prejuízos irrecuperáveis aos estabelecimentos que, eventualmente, no decorrer do processo, comprovem que seus custos não foram reduzidos nessa proporção.
A decisão ressalta que aquelas escolas que já concederam descontos maiores devem mantê-los e que, até a decisão final, se ficar comprovado que a redução dos custos de manutenção for maior, pode haver uma compensação.
Escolas deverão provar que não houve redução de custos com as aulas on line
A decisão atendeu a um pedido importante para os consumidores: a inversão do ônus da prova. Na prática isso significa que não cabe aos pais - representados pelo MPSC e pela DPE-SC - comprovarem que as escolas diminuíram seus custos com a substituição das aulas presenciais pelas virtuais ou on line.
Um dos principais argumentos do Sindicato das Escolas Particulares (SINEPE) e das escolas não filiadas ao sindicato que se negaram a negociar novos valores com os pais e responsáveis é o de que os investimentos necessários para a migração do ensino para a modalidade remota compensariam as eventuais reduções nos custos de manutenção decorrentes da suspensão das atividades presenciais.
Agora os estabelecimentos de ensino terão que comprovar esse argumento no processo, o que, antes, muitos se recusavam a fazer pois defendiam que eram os pais que deveriam produzir essas provas. Boa parte das escolas se negava, inclusive, a apresentar a planilha de custos detalhada aos pais.
Diante da decisão monocrática do Desembargador, MPSC e Defensoria Pública, agora, estudam novo recurso objetivando que o colegiado reverta a decisão e conceda integralmente os pedidos feitos em 1º Grau.
A Defensora Pública Ana Paula Berlatto Fao Fischer destaca que o objetivo dessas ações civis públicas é reequilibrar a relação contratual entre as partes e proteger o consumidor, que é a mais vulnerável. ¿Houve uma alteração da forma e da qualidade na prestação do serviço. E houve redução da renda de inúmeras famílias diante do contexto trazido pela pandemia. O que queremos é permitir uma justa contraprestação em conformidade com a redução dos custos operacionais das escolas e da queda na qualidade do serviço prestado, zelando, ao mesmo tempo, pela manutenção das instituições, para que não ocorra uma inadimplência significativa ou rescisão contratual em massa¿, defende Ana Paula.
"Uma visão mais holística dessas ações civis públicas propostas permite concluir que só com os descontos proporcionais ao porte de cada escola, que respeitem a capacidade de cada uma delas de enfrentar a pandemia, evitaremos externalidades negativas ainda maiores, entre elas, a rescisão dos contratos escolares e a migração em massa para o ensino público", argumenta a Promotora de Justiça Analu Librelato Longo, da 29ª Promotoria de Justiça da Capital. Além da Defensora e da Promotora, também assina as ACPs o Coordenador do Centro Operacional do Consumidor, Promotor de Justiça Eduardo Paladino.