A Mata Atlântica é o relicário da sociedade brasileira, diz presidente da ABRAMPA
O Presidente da Associação Brasileira dos Membros do Ministério Público de Meio Ambiente (ABRAMPA), Promotor de Justiça Luís Fernando Barreto Cabral Júnior, palestrou durante o seminário "Santa Catarina ainda é Mata Atlântica", organizado pelo Ministério Público de Santa Catarina (MPSC). O evento ocorreu nos dias 22 e 23 de fevereiro, na sede do MPSC, em Florianópolis.
Durante o seminário, Barreto falou sobre a atuação do Ministério Público na proteção do meio ambiente. Na entrevista abaixo ele afirma que a compreensão da formação da sociedade brasileira não prescinde da compreensão do papel ecológico, histórico e cultural da Mata Atlântica. "A Mata Atlântica é o relicário de muitos dos mais caros valores da sociedade brasileira." Leia mais:
MPSC - Qual a sua avaliação acerca das propostas de alteração da legislação do licenciamento ambiental no Brasil?
Luís Fernando Barreto Cabral Júnior - As propostas referentes ao licenciamento ambiental contidas no PL nº3729/2004 não representam nenhum avanço na normatização do procedimento de licenciamento ambiental. Contemplam modalidades de licenciamento que fragilizam a fiscalização e que contrariam os princípios da prevenção e da precaução, além de conterem elementos evidentemente inconstitucionais como as listas de dispensa de licenciamento e a exclusão da certidão de uso e ocupação do solo. No tocante à publicidade e à participação popular os projetos retiram a transparência dos processos.
MPSC - Qual a sua expectativa em relação ao julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) das Ações Direta de Inconstitucionalidades (Adins) que questionam dispositivos do Código Florestal?
Barreto - O resultado não se apresenta satisfatório. Pela sua complexidade e abrangência, a matéria deveria ser tratada em arguições incidentais, nas quais os prejuízos pudessem ser melhor esclarecidos. Tornou-se um julgamento muito amplo e muito complexo.
MPSC - Como o senhor avalia a atuação do Ministério Público na área do meio ambiente no País?
Barreto - O Direito Ambiental Brasileiro foi construído no dia a dia do Ministério Público Ambiental. Quem tornou essa legislação aplicável foi o exercício da ação civil pública. Se dependesse da iniciativa do Poder Executivo e da autorregulação do setor privado, esse Direito seria menor e excludente dos interesses sociais. A atuação do Ministério Público de Meio Ambiente é a que mais resultados trouxe para a sociedade brasileira nos últimos 30 anos. Hoje, todo cidadão sabe que pode exigir e questionar uma licença ambiental ou urbanística, raro é o cidadão que não participou ou tomou conhecimento de uma audiência pública ambiental, as populações carentes afetadas por empreendimentos sabem que têm direitos socioambientais. Todo cidadão brasileiro compreende que lançar esgotos sem tratamento é crime, que poluir o ar é crime ambiental, que os resíduos sólidos exigem tratamento. Todo cidadão sabe que a fauna doméstica tem especial proteção e que o patrimônio cultural tem proteção jurídica. Tudo isso decorre das causas enfrentadas pelo Ministério Público Ambiental.
MPSC - Qual é o papel do Ministério Público na restauração da mata atlântica no Brasil?
Barreto - O papel de resgatar esse patrimônio, proteger todas as áreas remanescentes e engajar a sociedade na defesa do bioma que mais de perto conta a história da sociedade brasileira. A compreensão da formação da sociedade brasileira não prescinde da compreensão do papel ecológico, histórico e cultural da Mata Atlântica. A Mata Atlântica é o relicário de muitos dos mais caros valores da sociedade brasileira.