As atividades da Escola Estadual de Educação Básica Dr. Otto Feurschuette, em Capivari de Baixo, foram diferentes na manhã desta quinta-feira (15/9). Livros, cadernos e celulares foram deixados de lado, ninguém teve que prestar a atenção em qualquer conteúdo da lousa. A conversa em sala de aula, normalmente um comportamento repreendido firmemente pelo professor, foi estimulada. Sentados em círculo, alunos e professores dividiram pensamentos e sentimentos sobre conflitos que vivenciam diariamente.
No primeiro semestre deste ano, a escola presenciou casos de racismo, de homofobia e de apologia ao nazismo. Encarando o problema como uma oportunidade para mudar este cenário, a direção da escola procurou o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) para pedir ajuda. A partir desta iniciativa, a comunidade escolar recebeu a primeira edição do projeto Escola Restaurativa.
''O encontro de hoje foi maravilhoso, gostei muito dos ensinamentos que passaram para nós sobre como lidar com os dias ruins que acontecem em nossa vida. Foi uma experiência incrível para aprendermos a conversar e a escutar os outros'', contou a estudante Rafaela de Abreu de Souza, de 16 anos.
O projeto idealizado pelo Núcleo Permanente de Incentivo à Autocomposição (NUPIA) do MPSC, com a aplicação da metodologia de Círculo de Construção de Paz e Comunicação não-violenta, tem como objetivo auxiliar na resolução de conflitos e situações de violência vividos na comunidade escolar. Ao todo, aproximadamente 700 alunos do ensino médio irão participar dos dois encontros que serão realizados na escola.
''Traz um sentimento de conexão, integração, inclusão. Além de prevenir o escalonamento dos conflitos'', é assim que a Promotora de Justiça Iara Klock Campos, Gerente do Projeto Escola Restaurativa, descreveu o lançamento do projeto, que segundo ela é um marco para a Escola Estadual de Educação Básica Dr. Otto Feurschuette e também para o MPSC.
Neste primeiro encontro, os 28 facilitadores com formação em Círculos de Construção de Paz estiveram com estudantes e professores de 14 turmas numa roda de conversa, chamada de ''Círculos Restaurativos''. Durante quase três horas de interação, simultaneamente, cada participante teve um espaço seguro para falar e também ouvir.
''O plano de ação para a escola terá três fases. A primeira fase está iniciando hoje, que é a realização de Círculos de Construção de Paz com alunos e professores para sensibilização da Justiça Restaurativa. Na segunda fase, vai ocorrer a formação e capacitação dos alunos e professores para eles darem continuidade, com essas metodologias, e tentarem resolver e transformar os seus conflitos aqui da escola. Na terceira fase, será a supervisão dessa capacitação'', explicou a Promotora de Justiça.
De acordo com a Analista do Ministério Público, Kátia de Jesus Wermelinger, trazer o conhecimento sobre a Justiça Restaurativa para os alunos, para que eles comecem a trabalhar uma nova forma de se comunicar, acolher, conectar e compreender os próprios comportamentos e dos amigos, é algo que inicia como trabalho preventivo.
"O projeto Escola Restaurativa está sendo gestado no Ministério Público há algum tempo, desde antes da pandemia. De fato, é um momento histórico esse lançamento, porque ficou durante muito tempo aguardando essa possibilidade de contato presencial, que é essencial para essa nova metodologia de trabalho, que são os Círculos Restaurativos. Nossa pretensão é que a própria escola possa lidar, de maneira mais tranquila, com as situações de interesse da instituição e também situações conflitivas. Trazendo a prevenção, não levando todas as situações adiante para o Judiciário ou Ministério Público, mas sim envolvendo a comunidade escolar no tratamento dessas situações'', destacou.
Na próxima quinta-feira (22), irá ocorrer o segundo encontro de sensibilização na Escola Estadual de Educação Básica Dr. Otto Feurschuette. Serão sete turmas, do período vespertino e noturno, com a interação de 14 facilitadores com formação em Círculos de Construção de Paz.