Comunidade apreensiva há décadas
A preocupação com a área não é recente. José Elias, agricultor e morador da comunidade de Sanga da Toca há 65 anos, acompanha há décadas a redução do nível da água e a luta por medidas de preservação. "Nós da comunidade estamos desde 2005 batalhando, fazendo estudo, tentando de tudo, e até hoje não tivemos solução. A lagoa para nós significa muito. Ela começa a baixar aqui e nós já percebemos lá em cima", conta o produtor, referindo-se ao solo onde há plantação, que perde toda sua umidade com a baixa no volume de água da lagoa.
"Na minha opinião, este é o maior patrimônio ambiental que temos no Sul de Santa Catarina e ninguém dá valor. Se você viesse aqui 20 anos atrás, veria tudo diferente. Não tinha nada de vegetação, não se pisava aqui onde estamos. Era água aqui. Não dá para comparar", completa José.
Barragem pode ser solução para restaurar o nível da lagoa
O inquérito civil instaurado pelo Ministério Público identificou que a diminuição da lâmina d¿água ocorre porque a vazão da lagoa supera sua capacidade de recarga. Em 2009, um dique provisório foi construído no canal natural da Lagoa do Caverá para conter a perda de água, mas sua eficácia foi temporária.
Em 2013, um estudo ambiental simplificado e um projeto de engenharia foram elaborados pelo então Departamento Estadual de Infraestrutura para a construção de uma barragem permanente. A obra, no entanto, nunca saiu do papel. Estudos indicam que a implantação de uma pequena barragem no Rio Caverá, no canal que liga a Lagoa do Caverá à Lagoa do Sombrio, seria a solução mais eficiente para conter a perda de água e restabelecer o equilíbrio do manancial.
Pedidos do MPSC à Justiça
A ação requer que Estado e Municípios adotem medidas emergenciais para conter a degradação da Lagoa do Caverá. Os principais pedidos são listados a seguir.
Ao Estado de Santa Catarina:
- realizar, no prazo de 120 dias, estudos técnicos para identificar as ações necessárias para recuperar a lagoa e controlar sua vazão de escoamento;
- elaborar estudo técnico para viabilizar a implantação da barragem;
- investigar se a extração de turfa e a rizicultura estão agravando o rebaixamento do nível da lagoa;
- no prazo de 60 dias, apresentar estudo multidisciplinar para diagnosticar os fatores responsáveis pelo estado atual da lagoa e propor medidas corretivas, incluindo desassoreamento, revegetação das margens e regulação da extração de turfa;
- apresentar um cronograma detalhado de ações em até 60 dias;
- fixar placas informativas no local da lagoa em até 30 dias;
- implementar todas as ações necessárias para a recuperação completa da Lagoa do Caverá em um prazo adequado.
Aos Municípios de Araranguá, Balneário Arroio do Silva, Balneário Gaivota e Sombrio:
- mapear, em até 60 dias, todas as atividades que ainda representam risco ao manancial, como a rizicultura e a extração de turfa;
- criar, em 60 dias, um plano de uso e ocupação do solo, instituindo uma área de proteção ambiental para preservar a lagoa;
- desenvolver um plano de uso racional da água da lagoa para abastecimento humano, com cronograma de execução em até 12 meses;
- proibir qualquer atividade que possa agravar a degradação da Lagoa do Caverá;
- implementar todas as medidas necessárias para a total recuperação do manancial.
Em caso de descumprimento, o MPSC pede que seja aplicada uma multa diária de R$ 5 mil, a ser revertida ao Fundo para Reconstituição de Bens Lesados.