Juvande Rock de Melo é deficiente visual e mora há oito anos na cidade de Laguna. Com somente 10% da visão, enfrenta obstáculos diariamente ao se deslocar pela cidade. "A gente passa por bastante dificuldade, falta de acesso tátil, piso guia, rampas, falta bastante estrutura básica para estarmos andando na nossa cidade, que é tão histórica, tão bonita, mas que tem que estar mais preparada para as pessoas com deficiência, para os idosos, as gestantes e para todos", relata.
A busca por soluções para a acessibilidade em Laguna está no radar da 3ª Promotoria de Justiça, que atua na área da Cidadania e Direitos Fundamentais. Com três inquéritos já instaurados para verificar a falta de estrutura acessível nos órgãos públicos municipais, o MPSC deu mais um passo para tentar resolver o problema. Um Protocolo de Intenções foi firmado entre o Ministério Público catarinense e a Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), por meio do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, para realização de diagnósticos técnicos onde são verificados se as normas de acessibilidade estão sendo seguidas nos edifícios públicos de Laguna.
O protocolo tem como base a função institucional do Ministério Público na proteção de interesses coletivos. Três inquéritos já tramitam na Promotoria para apurar a falta ou deficiência de adequação às normas de acessibilidade na Rodoviária do Município de Laguna, na Prefeitura e nas Unidades Básicas de Saúde. Agora com o protocolo firmado, os alunos da Universidade estão visitando os locais e verificando as condições com base nas normas de acessibilidade brasileira. Finalizados, os diagnósticos serão enviados à promotoria que dará encaminhamento nos inquéritos de investigação. O prazo de finalização das vistorias é de no máximo 30 dias por edifício.
Os serviços estão sendo realizados em regime de cooperação, ou seja, não há transferência de recursos financeiros. "Essa parceria surgiu da necessidade de se fazer esses diagnósticos dos edifícios na cidade de Laguna que estavam demorando muito para serem feitos pelos profissionais do Município. Por meio dela, agora poderemos ter um diagnóstico mais ágil a respeito da observância das normas de acessibilidade e a partir daí tomar as providências, seja formalizar um compromisso de ajustamento de conduta ou propor alguma ação judicial", informou a Promotora de Justiça, Bruna Gonçalves Gomes.
Problemas já estão sendo encontrados
Nas avaliações técnicas, que iniciaram no final de março nas Unidades de Saúde, os acadêmicos verificaram inúmeros itens contidos em uma planilha com as normas brasileiras de acessibilidade, não somente para pessoas com deficiência, mas para pessoas com dificuldade de locomoção sejam elas permanentes ou não, e pessoas em geral que frequentam os locais. "A gente está avaliando as condições de acessibilidade físico-especiais, ou seja, desde os acessos a unidade, condições de calçadas, travessia de pedestres, se possui sinalização por faixa, os acessos até a unidade para pessoas com cadeira de rodas, carrinho de bebê. São ao todos dez planilhas que nós checamos item por item em cada uma dessas visitas", explica a professora responsável pelo projeto, Carolina Stolf Silveira.
A professora explica ainda que os itens de acessibilidade verificados dizem respeito à locomoção de pessoas com deficiência sensorial - como baixa visão e cegueira -, pessoas com deficiência auditiva ou dificuldade físico-motoras. "Mas vai muito além disso também, acessibilidade diz respeito a todas as pessoas, independente das suas condições. E tratando-se de um estabelecimento de saúde, por exemplo, comumente as pessoas chegam mais debilitadas, então é essencial que essas unidades e todos os edifícios públicos estejam acessíveis", completou.
Os trabalhos tiveram início pela unidade de saúde do Mar Grosso, que registra o maior número de atendimentos na cidade, e tem avançado para os demais bairros. "No geral as unidades têm apresentado um mesmo padrão, com algumas irregularidades, dificuldades na conversação com as ruas, com difícil acesso e desníveis, o que dificultaria a vida de alguém que tem dificuldade em se locomover", conta o estudante João Vitor Bittencourt Pilati.
Laguna é uma cidade histórica, com centenas de prédios tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e a preocupação dos alunos é também em sugerir melhorias que possam aliar tradição e acessibilidade. "Tanto nas edificações atuais quanto nas históricas é possível fazer as adequações para acessibilidade, por isso é tão importante fazermos essas vistorias para checarmos tudo que for necessário e sugerir adequações", explica Susi Ross dos Reis, aluna da 4ª fase.