Nesta terça-feira (8/9), foi realizado o primeiro dos três eventos on-line alusivos ao Setembro Amarelo promovidos pelo Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), que neste ano tem a temática "Distantes, mas juntos" e debaterá medidas preventivas em tempos de pandemia. O evento, um seminário virtual, foi transmitido pelo canal do MPSC no YouTube e tratou do tema "O cuidado em saúde mental: orientações aos profissionais e trabalho articulado entre políticas públicas".
Participaram deste seminário o psicólogo e orientador do Núcleo de Educação em Urgências de Santa Catarina Diego Tenório Batista e o psiquiatra Eduardo Pimentel. No evento, os profissionais convidados abordaram a saúde mental dos pacientes atendidos e dos profissionais de saúde, reforçando a importância das redes de apoio e do manejo do luto.
O evento
Os especialistas deram início às suas falas tratando dos impactos das mudanças que a pandemia de covid-19 trouxe à atuação de profissionais da saúde. "Quando estamos diante de uma condição que é caótica, de dificuldades e imprevistos, e muitas vezes não conseguimos visualizar o fim de tudo isso, chega o momento em que o profissional de saúde entra em esgotamento", explicou o psicólogo, complementando que o processo se intensifica quando é preciso lidar com alguma perda.
Para o especialista, isso se dá porque a assistência em saúde é, naturalmente, pensada para salvar vidas. "A morte é, talvez, um dos fatores mais intensos com que um profissional da saúde possa lidar, porque é contra a natureza da assistência", disse Diego. Nesse sentido, orientou sobre a importância de exercer a prática do autocuidado, muitas vezes colocado em segundo plano.
"Estamos num momento de sobrecarga, com algumas equipes afastadas, recursos humanos diminuindo, temos equipes sendo contaminados e trabalhando, às vezes, com equipe reduzida. Eu preciso reconhecer - e isso requer esforço cognitivo e emocional - se nesse momento eu tenho condições de exercer essa atividade", explicou Diego. Além disso, os especialistas afirmam que, quando necessário, é importante acionar as redes de apoio para minimização do sofrimento e dos sentimentos de angústia e medo.
Para o psiquiatra Eduardo Pimentel, a forma com que se lida com a crise, neste contexto da pandemia, é crucial. "Esse estresse que estamos vivenciando é uma mudança, é uma crise na nossa vida. Com certeza, o mundo nunca mais será o mesmo, e sempre que temos uma crise, ou crescemos ou podemos piorar", comentou.
Na área da Psiquiatria, Pimentel afirmou que muitas pessoas estão adoecendo, o que leva muitos à necessidade de tratamento. Com relação à depressão, 35% dos diagnosticados possuem uma pré-disposição genética; os outros 65% desenvolvem a doença por conta de fatores do meio ambiente. "O que temos visto não é só a questão da pandemia em si, mas como estava a vida antes da pandemia. As pessoas que têm hábitos de vida saudáveis e com laços familiares bem-estruturados geralmente lidam melhor com a situação. Temos percebido muitas pessoas que já não vinham bem e com essa sobrecarga por conta da pandemia acabam adoecendo. Isso nos faz refletir sobre como está a vida do profissional que está atuando na linha de frente", disse Pimentel.
O psiquiatra destacou que a principal causa de morte na área da Psiquiatria é o suicídio e que, infelizmente, os profissionais da área da saúde são grupo de risco. "Justamente porque têm aceso ao meio, têm uma vida muito estressada, entre outros fatores", ressaltou, destacando a importância do debate.
Nesse sentido, trabalhar a temática se mostra uma ferramenta importante para lidar com os impactos da pandemia na saúde mental de todos os cidadãos. Conforme o Coordenador do Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos e Terceiro Setor (CDH), Promotor de Justiça Douglas Roberto Martins, que conduziu o evento, "o Setembro Amarelo é mais forma de trabalhar em prol da efetivação das políticas públicas e um espaço específico de reafirmar o compromisso com a saúde mental das pessoas e com a vida".
Assista à transmissão na íntegra no vídeo abaixo.