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A proteção dos direitos fundamentais por meio do diálogo, do trabalho em rede e da troca de experiências internacionais foi o foco do seminário internacional "Desafios e perspectivas da tutela supranacional dos direitos fundamentais no século XXI", realizado nesta segunda-feira (15/9) no auditório do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), em Florianópolis. Promovido em parceria com o Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) e com a Universidade do Vale do Itajaí (Univali), o evento reuniu especialistas do Brasil e do exterior, além de membros, servidores de órgãos públicos e convidados, para debater os desafios contemporâneos da proteção supranacional dos direitos humanos. 

Em um cenário marcado pela globalização e por constantes ameaças aos direitos fundamentais, o fortalecimento da proteção jurídica exige diálogo permanente entre o Ministério Público, a academia, as instituições jurídicas e a sociedade. Com esse propósito, o seminário promoveu uma reflexão crítica sobre os mecanismos de tutela supranacional dos direitos fundamentais, com destaque para os sistemas interamericano, europeu e das Nações Unidas. 

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Entre os temas debatidos ao longo do encontro estiveram a incorporação das decisões internacionais ao ordenamento jurídico interno, os impactos da jurisprudência das cortes supranacionais, os desafios impostos à soberania estatal e o papel das instituições multilaterais na promoção e defesa dos direitos humanos. O evento também teve transmissão interna no MPSC. 

O Subprocurador-Geral de Justiça para Assuntos Administrativos do MPSC, Rafael de Moraes Lima, deu as boas-vindas aos participantes. Ele representou a Procuradora-Geral de Justiça, Vanessa Wendhausen Cavallazzi, e destacou a relevância do evento e a centralidade dos direitos fundamentais no ordenamento jurídico. 

"A importância é extrema, notadamente porque estamos tratando da base do Direito. Toda a derivação do ordenamento jurídico decorre dos direitos fundamentais e, ao mergulharmos nesse núcleo, conseguimos compreender melhor essa nova gama de direitos que se apresentam na prática no nosso dia a dia", disse. Para Lima, um evento daquela magnitude para debater temas desafiadores em um cenário de mudanças aceleradas "convida a refletir sobre como o Direito pode se realinhar com o mundo real, trazendo mais segurança e efetividade à atuação jurídica", completou.  

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O Presidente do TJSC, Desembargador Francisco José Rodrigues de Oliveira Neto, ressaltou a importância da integração entre os sistemas de justiça na proteção dos direitos humanos. "Direitos humanos e sistema de justiça são estruturas que se complementam e têm como finalidade a defesa de valores fundamentais. Quando essas estruturas funcionam adequadamente, conseguimos cumprir nossa missão constitucional. Discutir temas como o Direito Ambiental e a proteção da vida humana é essencial, especialmente ao buscarmos referências em sistemas internacionais, como os europeus. O Brasil já avançou muito, mas ainda há muito a aprender e integrar. Este é um dos grandes objetivos deste encontro: fortalecer uma rede global de proteção e promover uma reflexão profunda sobre os caminhos que ainda precisamos trilhar", afirmou. 

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O Advogado Marcelo Peregrino, que também discursou aos presentes, destacou a relevância da tutela supranacional dos direitos fundamentais como instrumento de fortalecimento da democracia: "Acredito que o uso dos standards do Direito Internacional e dos direitos humanos pode contribuir significativamente para a nossa democracia. Os problemas enfrentados pelos países são muitas vezes os mesmos, como tem afirmado o Professor Javier Roca", avaliou.  

"Trabalho em rede" 

Pela manhã, o Professor doutor da Universidade Complutense de Madrid Francisco Javier García Roca ministrou a conferência magna, com o tema "Constitucionalização dos direitos humanos no Direito Internacional". Javier destacou a importância da atuação conjunta entre instituições e países na proteção dos direitos fundamentais:  

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"Acho que é muito importante esse fenômeno de nossos tempos, um trabalho em rede global, a Corte Interamericana de Direitos Humanos e o Tribunal Europeu de Direitos Humanos e agora, desde o acordo de Kampala, a Corte Africana. Os temas são os mesmos, as soluções são parecidas e o trabalho em rede, intercâmbio de experiências, argumentos, experiências. Então, esse trabalho em equipe, em rede, dá uma grande segurança e quem se desconecta da rede fica isolado. Esse é o futuro", disse. A palestra teve como debatedor o Presidente do TJSC, Desembargador Francisco José Rodrigues de Oliveira Neto, e como mediador o Advogado Carlos Enrique Arrais Caputo Bastos.  

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Desafios estruturais e contemporâneos 

A Professora e doutora da PUC-SP Flávia Piovesan, que foi membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (2018-2021), proferiu a palestra "O Brasil e o Sistema Interamericano", mediada pelo Promotor de Justiça do MPSC Vinícius Secco Zoponi. Ela destacou os desafios estruturais e contemporâneos enfrentados pela América Latina, como desigualdade, déficit democrático, violência e novas questões como tecnologia e emergência climática. 

"Deixo aqui a minha mensagem: todos os Promotores e Promotoras nacionais são Promotores e Promotoras interamericanas. Todos os Procuradores e Procuradoras de Justiça nacionais são também Procuradores e Procuradoras de Justiça interamericanas. Temos que contar com o sistema interamericano, que salvou e salva tantas vidas, como o nosso aliado para o fortalecimento da defesa dos direitos humanos, da democracia e do Estado de Direito no nosso Brasil", disse. 

Abertura 

Compuseram a mesa de autoridades na abertura do evento o Subprocurador-Geral de Justiça para Assuntos Administrativos, Rafael de Moraes Lima, que representou a Procuradora-Geral de Justiça, Vanessa Wendhausen Cavallazzi; o Presidente do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, Desembargador Francisco de Oliveira Neto; a Subcorregedora-Geral do Ministério Público, Cristiane Rosália Maestri Böell; a Vice-Diretora do Foro da Seção Judiciária de Santa Catarina, Juíza Federal Érica Giovanini Reupke; a Procuradora-Geral Adjunta de Florianópolis, Caroline Grando; o Presidente da Entidade de Classe - ADEPESC, Defensor Público Joffily Coutinho; o Presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SC, Prudente José Silveira Mello, que representou o Presidente da OAB, Juliano Mandelli; o Professor Alceu de Oliveira Pinto, que representou a Univali; e os Advogados Marcelo Peregrino e Carlos Enrique Arrais Caputo Bastos. 

Veja a entrevista com a professora e doutora Flávia Piovesan

Como a Senhora analisa estarmos reunidos com palestrantes tão relevantes para debatermos esse tema, que segue relevante na contemporaneidade? 

Flávia Piovesan - Fico muito feliz. Queria expressar minha gratidão profunda, a minha admiração, a minha esperança e me sinto muito orgulhosa desta casa, o Ministério Público de Santa Catarina, abrir as suas portas e pautar com centralidade os direitos humanos, a sua defesa e o papel do sistema interamericano e, sobretudo, o seu impacto transformador. Me dá muita alegria, muito orgulho e muita esperança. Aplausos ao Ministério Público de Santa Catarina. 

A sua palestra aborda justamente o contexto do sistema interamericano de direitos humanos. Como a senhora avalia hoje em dia os avanços que nós temos obtido nessa área?  

Flávia Piovesan - Eu creio, e vou começar pelos desafios, é o ponto um da minha conferência. Há uma dor regional comum que abarca a profunda desigualdade socioeconômica, déficit democrático, violência epidêmica e novos desafios. Nós somamos desafios antigos e estruturais com novos desafios, como novas tecnologias de direitos humanos, emergência climática e direitos humanos. E a pergunta é qual é a potência e impotência do direito, do sistema interamericano como nosso aliado para transformar esse estado de coisas, para converter dor e sofrimento em direitos, respeito e justiça. Portanto, eu deixo aqui a minha mensagem. Todos os Promotores e Promotoras nacionais são Promotores e Promotoras interamericanas. Todos os Procuradores e Procuradoras de Justiça nacionais são também Procuradores e Procuradoras de Justiça interamericanas. Temos que contar com o sistema interamericano que salvou e salva tantas vidas como nosso aliado para o fortalecimento da defesa dos direitos humanos, da democracia e do Estado de Direito no nosso Brasil.