"O crime foi praticado contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, em um contexto de violência doméstica e familiar, com a consequente inferioridade de força física da vítima perante o denunciado e a sua subjugação cultural, qualificadora esta de natureza, inclusive, objetiva". As palavras são do Promotor de Justiça Douglas Dellazari, que atua na área criminal em Capinzal, e descrevem um caso de feminicídio ocorrido em Ipira, município de cerca de cinco mil habitantes pertencente à comarca.

Em dezembro de 2022, um radialista atacou a ex-namorada com uma tesoura e a atingiu no pescoço porque ela se recusou a reatar a relação. A mulher sobreviveu graças a uma cirurgia. O agressor foi julgado e condenado na semana passada pelo Tribunal do Júri com base na denúncia do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC). Ele cumprirá 12 anos, cinco meses e 10 dias de reclusão por tentativa de homicídio triplamente qualificado.

O julgamento aconteceu no fórum de Capinzal. O Promotor de Justiça Douglas Dellazari apresentou as provas aos jurados durante uma hora e meia, e depois fez a réplica de uma hora para desarticular a tentativa da defesa de minimizar os efeitos do crime. As qualificadoras imputadas ao réu foram o motivo fútil, pois ele agiu simplesmente por não se conformar com o fim do relacionamento; o emprego de recurso que dificultou a defesa da vítima, afinal ele a atacou de surpresa; e o feminicídio, pois o crime foi praticado contra mulher no contexto de violência doméstica e familiar.

"A vítima foi covardemente surpreendida pelo réu com um golpe de tesoura no momento em que deixava a residência, encontrando-se desprevenida para reagir de forma oportuna e eficaz contra o ataque inesperado. Além disso, a vítima não poderia imaginar a investida, em função do relacionamento preexistente e da confiança que depositava em seu ex-companheiro. Mais uma vez a sociedade responsabilizou o agressor e fez justiça à vítima, mostrando que esta comarca não tolera crimes contra a vida. Nosso desejo é que a condenação sirva de exemplo para que crimes dessa natureza não voltem a acontecer", diz o Promotor de Justiça.

Relembre o caso

Os fatos aconteceram na noite de 9 de dezembro de 2022. Segundo a denúncia, o radialista não se conformou com o fim do namoro de um ano e foi à casa da vítima para tentar reatar a relação, mas ouviu um não. Na sequência, ele perguntou se a ex-companheira não tinha medo da morte e foi convidado a ir embora, mas se recusou. Então, a mulher saiu da casa e foi surpreendida com um golpe de tesoura no pescoço.

Enquanto o radialista fugia do local, ela se esforçava para chegar até a rua e pedir ajuda aos vizinhos. A cirurgia aconteceu no Hospital São Francisco, em Concórdia, em caráter de urgência, para a remoção de coágulos e drenagem de hematomas. A equipe médica constatou, ainda, perfuração no esôfago da vítima. Foram necessários quatro dias de internação na Unidade de Tratamento Intensivo para a recuperação.

O radialista se entregou para a Polícia dias depois do crime e permaneceu preso preventivamente até a data do julgamento. Após a leitura da sentença, ele foi reconduzido ao Presídio Regional de Joaçaba para o cumprimento da pena.