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Como conhecer o registro dos pequenos fatos passados do dia-a-dia, ligados aos indivíduos, que, juntos, criam uma cadeia de significação que ajuda a compreender os grandes eventos da História coletiva? Como conhecer as representações que as pessoas fazem dos processos que vivenciam? Como acessar a história de instituições, seus desafios e debates internos, nem sempre registrados em atas e anais? Tudo começa por ouvir o que as pessoas têm a dizer.

A história de uma instituição como o Ministério Público pode ser contada pelos registros na imprensa que repercutem seu trabalho; pelos documentos oficiais que a rotina administrativa engendra; pela sua atuação estampada nos processos judiciais, nos termos de ajustamento de conduta e nos inquéritos civis. Mas, também, pela perspectiva de membros e servidores ouvidos atenta e calmamente pelo Programa de História Oral.

A História Oral é considerada uma metodologia - e para alguns até uma disciplina independente - da História que adquiriu popularidade entre acadêmicos sobretudo a partir de princípios da segunda metade do século XX. Enquanto alguns queriam aprofundar aspectos das vivências dos grandes protagonistas da vida social, como políticos célebres e intelectuais de projeção, outros debruçavam-se sobre as narrativas das multidões de anônimos, pessoas comuns, que sentiram e fizeram a História à sua maneira, cotidianamente.

Assim, a História Oral tornou-se uma ferramenta essencial para a História Política e para a Social - isto é, a narrativa dos partidos, dos sindicatos, dos movimentos sociais, das organizações religiosas, das questões de gênero e das ações culturais. Mais do que se focar nos grandes eventos, a História Oral se interessou pela rede de relações simbólicas e pessoais que teceu seus bastidores.

Foi dessa forma que ela chegou com grande sucesso à História das Instituições. Num país de dimensões continentais como o Brasil, de extraordinária diversidade cultural e onde muito resta ainda por ser feito, em função do desenvolvimento em curso, a História Oral ajudou a preencher lacunas e a desvendar novas e provocativas questões.

As entrevistas feitas pelos historiadores são diferentes das elaboradas pelos jornalistas. Acostumados a escarafunchar nos arquivos, procurando e analisando documentos produzidos por outras pessoas, em outras épocas, a entrevista é o único documento que o historiador produz. Ela, por isso, precisa ser elaborada com uma série de cuidados técnicos rigorosos, tais como a edição feita pelo entrevistador responsável e a aprovação final do documento pelo depoente. Esse tratamento demanda horas de trabalho posteriores à gravação do depoimento.

Para os historiadores, uma entrevista isolada pode ter importância quando se trata da trajetória de vida de uma grande personalidade, mas é o conjunto de depoimentos coletados no âmbito de um Programa de História Oral que permite a construção de sentidos, que possibilita a cerzidura de interpretações, as quais ajudam as pessoas a compreender o sentido social do vivenciado pelos indivíduos. É, portanto, no conjunto de entrevistas que reside a maior riqueza de um Programa de História Oral.

MPSC: o mais amplo projeto do gênero no Brasil

O Ministério público de Santa Catarina possui um dos mais amplos e tradicionais projetos do gênero no Brasil. São quase 80 entrevistas captadas desde 2010, quando foi instalado o Memorial, onde se acolhe o Programa de História Oral. Dessas, 42 estão publicadas na íntegra sob a forma de coletâneas comentadas no âmbito da série editorial Histórias de Vida, que se prepara para lançar o quarto volume e já caminha para a organização de um quinto.

Para o consultor do Memorial do MPSC, Gunter Axt, doutor em História Social pela USP, o Programa de História Oral "tem por missão ajudar a sistematizar e a interpretar a diversidade do debate de uma instituição que é plural e que, como guardiã da ordem democrática, se funda no e para o debate público".

Além disso, o Programa de História Oral tem constituído um "relevante acervo cultural, cujo alcance social é vasto: não sabemos quais as perguntas que as gerações futuras farão ao passado, mas estamos ajudando a legar-lhes um rico manancial, onde a história se acha contada a partir da perspectiva dos membros e servidores do Ministério Público".

A coletânea "Histórias de Vida", atualmente contando com três volumes, materializa o trabalho do Programa História Oral e reverbera o seu alcance social. Editadas e aprovadas, as entrevistas são entregues ao público, que poderá, a partir delas, propor questões diversas, que vão desde o funcionamento da Justiça em Santa Catarina, até a história dos municípios. Pois os membros ao contarem sua trajetória profissional por inúmeras comarcas ao longo da carreira, descrevem aspectos das realidades das cidades e comunidades pelas quais passaram.

Primeira edição

A primeira edição da série Histórias de Vida reúne nove depoimentos de membros que dirigiram a Procuradoria-Geral e um do funcionário mais antigo da Instituição, Nery José Pedro. O segundo volume reúne quinze depoimentos de membros que ingressaram na Instituição entre os anos de 1950 e princípios dos anos 1970.

"Mulheres do Direito, mulheres do Ministério Público" é o produto mais recente lançado pelo Memorial do MPSC. O livro é resultado de um trabalho de quatro anos e se constitui em uma reflexão pioneira sobre a presença feminina no Direito no Brasil e no MP. O exemplar apresenta entrevistas com 16 Promotoras e Procuradoras de Justiça e uma servidora. A obra conta ainda, além dos textos introdutórios, com o destaque de um prefácio assinado por Camille Paglia, professora da Universidade das Artes da Filadélfia.

A feminista norte-americana já foi considerada uma das 100 mulheres mais influentes do planeta e costuma ter entrevistas e artigos publicados nos principais jornais e revistas ao redor do globo, sobretudo nos Estados Unidos, Inglaterra, Itália, Portugal, Países Nórdicos e Brasil. Seu livro mais célebre, "Personas Sexuais", acaba de ser traduzido para o idioma árabe. Esta foi a primeira obra prefaciada por Camille Paglia no Brasil, o que não apenas é uma grande honra para o Ministério Público de Santa Catarina, como registra a repercussão acadêmica e internacional que o trabalho desenvolvido pelo Memorial está alcançando.

Informações destas e outras obras podem ser acessadas clicando aqui.

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MEMORIAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO DE SANTA CATARINA

O Memorial do Ministério Público de Santa Catarina atua para valorizar a história catarinense. Conheça as atividades realizadas pelo setor para recuperar a história do Ministério Público e do Estado e o trabalho de pesquisa e organização de informações para torná-las disponíveis à consulta pela sociedade. Saiba mais do Memorial do MPSC clicando aqui.