Neste mês de novembro, o Ministério Público abraçou a campanha "Novembro Azul", dedicada à conscientização acerca da prevenção e do diagnóstico precoce das doenças que atingem a população masculina, em especial o câncer de próstata. Para encerrar a campanha, o MPSC conversou com a médica do trabalho da Gerência de Atenção à Saúde do MPSC, Fernanda Lemes Ferreira, que destaca a importância das ações de prevenção e das consultas e exames regulares.
O câncer de próstata é, muitas vezes, silencioso. Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) apontam para 65.840 novos casos de câncer de próstata, a cada ano, entre 2020 e 2022. Os homens com mais de 55 anos, com excesso de peso e obesidade estão mais propensos à doença. Por isso, anualmente, todo homem acima dos 50 anos deve consultar um urologista para fazer o exame preventivo. Esse tipo de câncer tem 90% de chance de cura se descoberto precocemente.
Confira a entrevista com a médica do trabalho da Gerência de Atenção à Saúde do MPSC, Fernanda Lemes Ferreira:
1. Doutora, o que faz da campanha "Novembro Azul" ser um momento oportuno para os homens buscarem o devido cuidado à saúde?
As campanhas de promoção à saúde são fundamentais na conscientização e alerta em relação aos comportamentos que impactam na nossa saúde e à necessidade de cultivar alguns cuidados. É a partir deste esclarecimento que sensibilizamos para mudanças de hábitos de vida e divulgamos informações relevantes. Sabemos que muitas doenças não apresentam sintomas em sua fase inicial. Isto também se aplica às doenças da próstata. Por isso, ainda que não tenhamos quaisquer sintomas, os exames de rotina são muito importantes. Esta campanha é um lembrete para que os homens retornem para seus acompanhamentos de saúde e um incentivo para que se habituem ao autocuidado.
2. Quando procurar o médico e qual médico procurar?
A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) recomenda que os homens a partir de 50 anos, e mesmo sem apresentar sintomas, procurem um profissional especializado para avaliação individualizada tendo como objetivo o diagnóstico precoce do câncer de próstata. Os principais fatores de risco para desenvolvimento da doença são: histórico familiar de câncer de próstata em pai, irmão ou tio; homens da raça negra; obesidade. Os homens que integram este grupo de risco devem começar seus exames mais precocemente: a partir dos 45 anos. Após os 75 anos, a recomendação é que somente homens com perspectiva de vida maior do que dez anos façam essa avaliação.
Para realizarmos o diagnóstico precoce é essencial a associação entre história clínica, exames físico e complementar (laboratorial e de imagem). Porém, a conduta é individualizada e definida pelo profissional que realiza a avaliação.
Qualquer profissional médico (clínico geral, saúde da família, nefrologista, etc.) pode conduzir a investigação. Na possibilidade ou preferência em escolher pelo profissional, é possível direcionar a busca para um especialista: o urologista.
A busca por um médico deve ter como objetivo uma melhor qualidade de vida, prevenção de doenças e não ficar na dependência da presença de sintomas.
3. Embora o câncer de próstata seja o tipo mais comum entre os homens, muitos revelam não quererem tocar no assunto. O motivo é o tabu existente relacionado ao exame de toque para identificar o câncer de próstata. Como os homens podem enfrentar esse preconceito e como eles podem ajudar outros homens a buscarem esse cuidado com a saúde?
O esclarecimento é sempre a melhor ferramenta. Quando compartilhamos experiências, também podemos atuar como incentivadores aos cuidados de saúde. É essencial que todos saibam que se trata de exames simples, indolores e efetivos. Cerca de 20% dos pacientes com câncer de próstata são diagnosticados somente pela alteração no toque retal, reforçando sua importância para o diagnóstico e o tratamento precoces. O câncer de próstata em fases iniciais não apresenta sintomas. Neste estágio, 90% dos casos podem ser curados. Ao apresentar sintomas, o câncer já está numa fase mais avançada e pode causar vontade de urinar com frequência e presença de sangue na urina ou no sêmen.
Tão importantes quanto os exames de rotina são os hábitos saudáveis: prática diária de, no mínimo, 30 minutos de atividade física; manter o peso adequado à altura; identificar e tratar adequadamente doenças como hipertensão, diabetes e problemas de colesterol; diminuir o consumo de álcool e não fumar. Uma dieta equilibrada também ajuda a diminuir o risco de câncer e de outras doenças crônicas não transmissíveis. Por isso, é uma medida preventiva que merece atenção: rica em frutas, verduras, legumes, grãos, cereais integrais; menos gordura, principalmente as de origem animal.
4. Além disso, durante a quarentena da pandemia de covid-19, muitas pessoas deixaram de ir a hospitais e clínicas por conta do risco de contaminação. Podemos dizer que isso foi mais um motivo para o público masculino deixar de realizar consultas e exames?
De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) e da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), a partir de março de 2020 observou-se queda expressiva na realização de exames diagnósticos para doenças da próstata - PSA e biópsia de próstata. O número de consultas com urologista, internações de pacientes diagnosticados com câncer de próstata e cirurgias para tratamento desta doença também caíram. Dados da SBU demonstram que houve queda de 27% na realização de PSA e de 21% das biópsias de próstata. De acordo com o Ministério da Saúde, as consultas urológicas caíram 33,5%, as internações, 15,7%, e houve redução de 21,5% nas cirurgias relacionadas ao tratamento por câncer de próstata em comparação entre 2019 e 2020. Esses números podem impactar negativamente na saúde dos homens, afinal a fase inicial da doença não apresenta sintomas.