Karla e o protagonismo como chave para a justiça social
Engajamento com a causa é o que define a vida e a carreira de Karla Garcia Luiz, 38 anos, psicóloga no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina (IFSC), campus de São José. Desde cedo ela sabia a profissão que gostaria de seguir, mas não imaginou que seu trabalho a conduziria para os espaços de debates sobre os direitos das pessoas com deficiência.
Natural de Garopaba, Karla tem deficiência física e se orgulha de ter tido uma educação de qualidade na infância. Estudou em escola pública, se formou e foi cursar Psicologia. Quando graduada, recebeu um convite para trabalhar na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e então percebeu que precisava buscar novas qualificações. Fez mestrado e doutorado e se tornou uma pesquisadora referência na área.
A jornada de estudos de Karla a fez entender a importância de acompanhar e participar do movimento político em prol das pessoas com deficiência. Desde o começo de 2023, ela integra o Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência (CMDPD) de Florianópolis, na condição de representante do Conselho Regional de Psicologia (CRP). Fazer parte do CMDPD é, para Karla, uma forma de garantir que as políticas públicas para as pessoas com deficiência sejam criadas e planejadas por quem vive na pele as dificuldades.
"Durante décadas, nós fomos pessoas tuteladas. Pessoas sem deficiências e que trabalham para pessoas com deficiência falavam e faziam as coisas em nosso nome, e há ainda resquícios disso hoje. Nós temos que tomar a rédea dessa situação, porque isso tem a ver com as nossas vidas. Temos todo direito de dizer o que cabe e o que não cabe para nossa existência¿, pontua Karla."
Nas reuniões do CMDPD, ela faz sugestões e conduz reflexões e questionamentos, contribuindo para que as decisões do conselho sejam tomadas considerando a realidade das pessoas com deficiência. "Tento ser atuante, ser propositiva, porque entendo que esse lugar é muito caro para nós. Por saber que esse lugar por muito tempo foi ocupado por pessoas que não tinham deficiência e que falavam por nós é que o reconheço como importante para nossa vida e vejo o quanto é importante estar nesse espaço", comenta.
Por isso, Karla faz um chamamento às pessoas com deficiência para que se engajem nos instrumentos de controle social, como os conselhos. "Politizar a deficiência é bastante importante. Defender os direitos da pessoa com deficiência não tem a ver com amor, caridade ou benevolência, assistencialismo. Tem a ver com justiça social, e nós temos que assumir esse papel", reforça. "Assim como discutimos raça, orientação sexual, identidade de gênero, questões de classe, tudo isso precisa ser politizado para a garantia de direitos, e com a deficiência precisa ser assim para que ocorra a construção de políticas de direitos que vão impactar as nossas vidas", conclui.
Cada uma a seu modo, Marci e Karla encontraram caminhos para lutar por equidade e respeito e para combater as discriminações. Ambas, ao lado de tantas outras pessoas com deficiência, aliadas e aliados na luta anticapacitista, visibilizam a importância de um engajamento político e coletivo por justiça social.