A valorização da memória, da história e do patrimônio cultural catarinense aparece como um ponto essencial no livro "A Casa de Chácara da Rua Bocaiuva - Histórias da Praia de Fora". A publicação, coordenada pelo Memorial do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), será lançada na próxima quinta-feira (7/11), em um evento que ressaltará também a arte de Santa Catarina, com a exposição de telas do pintor Joel Figueira com representações imagéticas da Casa. O lançamento ocorre a partir das 18h30, na própria Casa Bocaiúva, em Florianópolis.
De autoria da professora e arquiteta Eliane Veras da Veiga, o livro traz a história da casa número 1792 da Rua Bocaiúva, que foi construída no século XIX e tombada como patrimônio público de interesse cultural em 1986. "Pode-se dizer que essa construção é um lugar de memórias: referencial de vidas, de famílias, de formas de morar e conviver que foram se transformando, junto às mudanças da própria paisagem, ao longo de mais de um século. A Casa em si é testemunho materializado desse outro tempo", enfatiza o Procurador-Geral de Justiça do MPSC, Fernando da Silva Comin. Incorporada ao MPSC, a casa foi restaurada entre os anos de 2017 e 2018 e em breve ficará aberta para a sociedade como Centro de Memória e Espaço Sociocultural.
Por meio da história da Casa Bocaiúva conta-se também a história do Centro de Florianópolis e de toda a sociedade da época. Com fotos e mapas inéditos, a obra é um chamamento à consciência histórica e cultural da cidade, sem deixar de lado a crítica e a reflexão sobre as mudanças paisagísticas que ocorreram ao longo do tempo. Conforme explica a autora, "a intenção é que este livro seja uma leitura motivada de reflexões e posicionamentos. Incentivar o interesse pelo reconhecimento da paisagem antiga - este é o foco da equipe que se debruçou com afinco e paixão sobre esta pesquisa. Afinal, todos podemos contribuir para a cidade que desejamos neste século XXI e no futuro".
O jornalista e professor Laudelino José Sardá, que escreveu o prefácio do livro, aponta a contribuição da obra para a preservação da memória de Florianópolis. "Eliane e sua equipe ressaltam a importância de a cidade preservar suas construções históricas, referências de paisagem, como um legado que as letras, fotografias, mapas e plantas vão poder descrever com mais facilidade. Este livro é mais que uma lição: Florianópolis precisa enxergar, valorizar, abraçar e conservar o seu passado, para sempre identificar seus lugares referenciais de memória", defende.
Durante o evento ocorrerá uma sessão de autógrafos com a autora do livro e uma apresentação do Grupo Cantoria, da Associação Catarinense do Ministério Público (ACMP).
A CASA BOCAIÚVA
Quem vê a Rua Bocaiúva com edifícios modernos e trânsito intenso não consegue imaginar a "Bocayúva" do século XIX, que ainda era um caminho de terra ocupado por construções esparsas, distribuídas em grandes chácaras. Ao lado da Mauro Ramos e da Conselheiro Mafra, a rua fechava um circuito de vias que interligavam as moradas das zonas periféricas ao porto, igrejas, fortes, quartel e fontes de água, além do próprio centro da cidade - que, à época, se erguia em torno do Largo da Matriz, atual Praça XV de Novembro.
Foi nesse período que se construiu a Casa Bocaiúva. Em seus 251 metros quadrados, o imóvel apresenta características das edificações luso-brasileiras, valorizando as salas de receber e os ambientes reservados à família. Até hoje não se sabe ao certo quem foi o primeiro dono da casa, embora se identifiquem diversos proprietários que fizeram parte de sua história até 2013, quando foi adquirida por uma empresa privada que a vendeu junto com a construção do novo prédio do MPSC.
Aproveitando a importância histórica e cultural da casa, o MPSC decidiu utilizar a estrutura como forma de fortalecer sua atuação para a preservação da memória e cultura catarinenses.
Localizada no mesmo terreno da sede administrativa da Instituição, a casa será a sede do Espaço Sociocultural, o qual contará com biblioteca, cafeteria e salas de exposições para mostras artísticas e lançamentos de obras. Além disso, será um espaço para oficinas educativas, palestras e eventos que vão aproximar o MPSC da sociedade catarinense.
A Casa Bocaiúva também abrigará o Centro de Memória da Instituição, um espaço público onde documentos que registram a história do MPSC e do estado de Santa Catarina ficarão acessíveis ao público.